Enfermeira implora consciencialização após perder colega de trabalho que contraiu o Covid-19
O mundo inteiro está unido na luta contra o novo Coronavírus. Maior parte das pessoas está de quarentena como medida preventiva, por forma a estagnar a propagação do Covid-19, mas alguns profissionais não podem ficar em casa.
De entre todos esses heróis, os profissionais de saúde destacam-se por estar na linha da frente do combate, lidando diretamente com os doentes infetados e dando o seu melhor para os tratar.
Recentemente, uma enfermeira do Brasil, chamada Luciene Silva, fez questão de deixar o seu precioso testemunho nas redes sociais, na esperança de consciencializar a população.
Aqui fica o texto:
“09:48…
Chegando a casa depois de um plantão de 24h. Como estou? Despedaçada!!! Vou escrever aqui porque é uma mistura de desabafo, de grito, de denúncia, de alerta…
O meu turno começou ontem pela manhã e eu já sabia que entre os pacientes que teria de atender havia um colega de outro setor do hospital.
Fiz com ele alguns turnos e lembro-me de me ter cruzado com ele a semana passada pelos corredores.
Nas primeiras 12 horas de trabalho não cuidei de pacientes. Tratei de conseguir material para abastecer o setor, e que guerra enfrentei.
Não havia capotes nem máscara para iniciar o turno. Com uma máscara cirúrgica, fui até a porta do quarto dele e olhei pelo vidro…
“Vocês estão a demorar tanto a entrar aqui!”, disse-me. Eu respondi: “estamos sem material amigo, assim que chegar entramos”.
Lutei o dia inteiro para conseguir capotes (e não há). Vi um grande número de profissionais, de todas as áreas, a desentender-se.
Às 17h e pouco, sentei-me no corredor e chorei muito porque precisava de conseguir capotes adequados e tudo estava muito difícil. Os colegas brigavam porque não havia o material apropriado.
Às 19h fui tomar banho e pedir a Deus para renovar as minhas forças… A essa altura o colega internado já estava entubado.
Por volta das 6:10 da manhã, já mais relaxada, ouvi uma bomba de infusão a emitir um alarme, nada de urgente, apenas um sinal de que precisava de ser iniciada.
De boa vontade preparei-me e fui à procura do aparelho barulhento para o silenciar. Encontrei-o e resolvi o problema, mas na volta, olhando pela última vez para o monitor dos pacientes, deparei-me com aquilo que não queria ler no monitor do colega. Parou!!!
Parou também o meu coração! Fiz-me de dura e fui com a enfermeira “preparar” aquele corpo. O corpo de um colega de trabalho.
Sinto-me anestesiada neste momento. Agradeço aos colegas que ouviram o meu choro!
Vindo para casa, com as lágrimas a cair pelo rosto, vejo as pessoas na rua sem máscara, vejo-as amontoadas na fila do banco. Ninguém está a acreditar…
Vejo pessoas a publicar sobre o número de mortes no Brasil ser uma proporção mínima para o número de habitantes.
As nossas mortes estão só a começar… Os hospitais públicos já estavam degradados, o SUS (Sistema Único de Saúde) já estava a ser inviabilizado, e agora ainda precisamos de enfrentar uma pandemia.
POR FAVOR, PESSOAS, se for possível, fiquem em casa. Se precisarem de ir à rua, usem máscara. Ela NÃO é só para vossa proteção. Serve para não contaminarmos o outro, porque podemos estar sem sintomas e ainda assim transmitir o vírus!
Para nossa proteção, o importante é lavar as mãos sempre! Na impossibilidade de lavar as mãos, então utilize álcool gel.
Ou nós cuidamos de nós próprios e uns dos outros ou vamos todos padecer!!! Você pode até não estar a acreditar, mas irá quando um dos seus passar a fazer parte da estatística!
Vou parar por aqui… acho que falei bastante mas dentro de mim há sentimentos e emoções com os quais ainda não sei como vou lidar.
Por hoje, estou abatida!!!”